quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O tom da vida...

Um dia saíste à rua...
Calmamente olhaste em teu redor e foste absorvendo todas as cores que ali se cruzavam, misturando-se uma ou outra vez.
Deliciaste-te!
O seu sabor era algo que apenas tinhas imaginado até ao momento e ali, pela primeira vez, conseguias saborear cada uma delas.
Uma... outra... e outra ainda... tantas que ficavas confuso entre qual deverias escolher para provar a seguir.

Então pensaste... "eu também podia produzir algumas cores para alguém se deliciar!"
E seguindo esse pensamento, decidiste meter mãos à obra!
Procuraste nos recantos mais profundos de ti, onde tinhas escondido os tons mais claros que a vida te proibiu de usar, e foste misturando, misturando, misturando até que, achando ter encontrado o tom certo, coloriste o rosto da tua vida e saiste à rua...

Era linda a tua vida!
Todos os dias saias à rua espalhando a tua cor...
Todos os dias eras admirado pelo tom com que vestias a tua vida...
Todos os dias, ao chegar a casa, o despias e pousavas naquele cantinho, para o usar no dia seguinte.
E o teu tom negro, tom verdadeiro, voltava a desenhar o teu sorriso... mas era só até ao dia seguinte. No dia seguinte podias voltar a mostrar a todos como era lindo o tom que tinhas criado.

Um dia pensaste que, de tão belo que era o teu tom, podias partilha-lo com mais alguém e começaste a espalha-lo por todo o lado.
Engano teu pensares que alguém o aceitaria para si... outras vidas preferem outros tons e (quase) tarde percebeste isso.
Mas não desististe e se tinhas conseguido criar aquele tom, com certeza irias conseguir criar muitos outros para poderes colorir mais vidas! Pegaste nas cores que tinhas e juntando um pouco mais de uma, um pouco menos de outra... conseguiste novos tons que, certamente, iriam servir a alguém.

E com um sorriso, ias oferecendo cores a quem passava. Olhavam, sorriam e seguiam...
Ninguém queria as tuas cores! Todos tinham criado cores para si que, tal como tu, despiam em casa.

Sem noção do tempo que tinhas passado a tentar colorir a vida de alguém, a tua cor foi perdendo tom! Foi então que correste para casa apressadamente para não mostrar que a beleza da tua cor tinha sido fabricada por ti, assim como outras que oferecias para colorir outras vidas, e que podia desaparecer com o tempo. Tinhas que voltar a casa e criar mais daquele tom para mostrares no dia seguinte.

Envolto nesse pensamento, não reparaste que havia um buraco na estrada em que seguias com a tua vida e tropeçaste...
Todas as cores, que carregavas, se espalharam em ti, na tua vida, e quando por fim chegaste a casa, olhaste-te ao espelho e viste que todo o teu esforço tinha servido apenas... para manchar a tua vida!

12 doses:

najla disse...

Não sei se veja este teu texto como puro altruísmo em que nos damos aos outros, sem querer nada em troca tentanto, agradar, surpreeender e até partilhar e oferecer felicidade.
Ou se é uma camuflagem, pura fantasia, uma mascara, onde apenas nos pintamos para os outros verem. Um acto nosso egoista de querer pintar o mundo dos outros com as nossas cores...

...não sei.

Vício disse...

najla
um pouco de cada complementado-se... mas não tinha pensado no egoísmo apesar de inconscientemente poder estar presente.

Rafeiro Perfumado disse...

Tanta conversa para retratar um vendedor de LSD...

Parisiense disse...

Pois há dias que mais valia ficar em casa....:D

Beijokitas

ines disse...

Até pode ser que que a vida nos estrague por vezes a "pintura"... mas se em paz nos entregamos ao saudável convívio com tudo o que seja natural, as cores reorganizam-se num maravilhoso arco iris onde com maior facilidade as podemos escolher e vestir!
... sei lá eu...

Anónimo disse...

Nan!
Isso só funciona quando a cor verdadeira é o arco-iris
Beijinho

Vício disse...

rafeiro
há quem não conheça e por isso tenho que descrever bem! entendes? :h

parisiense
eu que o diga! estou que nem posso ~xo

ines
é assim que te vejo: ~w

marta
qual delas? são 7! :)]

Calendas disse...

Este post fez-me o livro Perfume. Provavelmente alio os cheiros às cores, sei lá. Um Dolce & Gabanna azul. Um Pasion vermelho. Um Paloma Picasso amarelo ;) A meu ver podes ir-te vestido de todas as cores porque a tua escrita cheira bem. Gostei!

Calendas disse...

Fez-me lembrar, poça. Devo estar com fome, lol.

Teté disse...

Um belo texto a raiar o poético... e com o inevitável unhappy end! :))

Mas gostei muito!

Vício disse...

candelas
e que cor dás ao Patchouli? :)]

teté
não é inevitável! ~s

Anónimo disse...

As sete cores.
Bem sei que é quase impossível, mas sonhar nunca fez mal a ninguém

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